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Borderline: Entre o diagnóstico e os desafios da convivência.

  • Foto do escritor: Jonatas Oliveira
    Jonatas Oliveira
  • 5 de abr.
  • 4 min de leitura

Borderline

Sobre o que é este post:

Como lidar com uma vida que parece estar sempre "no limite"?


O transtorno de personalidade borderline é marcado por uma intensa instabilidade emocional, hipersensibilidade nos relacionamentos, autoimagem oscilante e impulsividade. Tudo isso torna o cotidiano mais complexo e os relacionamentos – especialmente os amorosos – ainda mais desafiadores.


É um diagnóstico complexo e que precisa de tratamento adequado para que seja possível enfrentar os desafios sem se ferir ou sem ferir familiares, amigos e amores.


O diagnóstico: alívio e desconforto


Descobrir que o que você sente tem um nome pode ser um alívio. Dá um sentido à confusão interna, às emoções à flor da pele, aos comportamentos difíceis de explicar. Mas, ao mesmo tempo, o diagnóstico também traz um pacote de informações que nem sempre são fáceis de lidar. É como abrir um livro sobre si mesmo e encontrar páginas que assustam. A verdade é dolorosa e em alguns casos há negação.


Para muitos, esse momento coincide com o processo de se tornar adulto – um período que, por si só, já exige muito. Na transição (o período da adolescência) acontecem muitas coisas que incluem frustração, medo, ansiedade, decepção, rejeição e dor. Então, se as coisas já não eram tão fáceis, perceber que continuarão sendo difíceis não é encorajador. Lidar com as exigências externas enquanto tenta entender a si mesmo não é uma tarefa simples. Mas é necessário porque é essa compreensão que vai ajudar de verdade.


Relacionamentos: amor, idealizações e abusos


Quem tem borderline pode oscilar entre idealizar o parceiro e desvalorizá-lo por completo. Essa intensidade emocional, somada à baixa autoestima e à necessidade constante de validação, pode abrir espaço para relacionamentos abusivos – tanto como vítima quanto como autor de comportamentos nocivos.


Não é uma questão de querer machucar ou ser machucado. É “simplesmente” como a pessoa vive. Não sabendo ainda controlar os seus impulsos e não tendo ideia do que fazer com o que sente. O primeiro pensamento, por mais explosivo que seja, é realizado. Por isso, não é fácil amar e ser amado. Amor e ódio trocam de lugar muito rápido.


É importante destacar: ter um diagnóstico não justifica atitudes abusivas. Ele pode ajudar a explicar, mas não pode ser usado como desculpa para ferir o outro. Se alguém usa o transtorno como justificativa constante para desrespeitar limites, é hora de acender o alerta. Ninguém é obrigado a dar conta dos problemas de ninguém. Existem tratamentos e profissionais capazes de ajudar. Não buscar ou não aceitar essa ajuda e continuar destruindo a si mesmo e aos outros é um caminho ruim.


Você não é responsável por salvar ninguém


Para quem convive com alguém que recebeu o diagnóstico, as marcas ao longo do tempo de convivência são de memórias intensas. Algumas extremamente boas. Outras extremamente ruins. A decisão por continuar ao lado desse alguém se baseia no amor provado. O desejo pela separação se baseia nas feridas emocionais.


Algumas pessoas sentem que precisam ajudar e que sair e viver a própria vida será um ato de abandono. O que não é verdade. Como dito anteriormente: ninguém deve se obrigar a viver sacrifícios em prol do bem-estar de outra pessoa. Não é uma missão. É uma opção e muita coisa deve ser levada em consideração. Uma delas: o próprio bem-estar.


Existe uma linha muito tênue entre ajudar e se anular. Cuidar de alguém que amamos é bonito – mas não à custa da nossa própria saúde mental. Tentar "salvar" o outro é um caminho perigoso, que frequentemente termina em frustração, dor e esgotamento.


A mudança é uma responsabilidade individual. Por mais que você ame alguém, não pode obrigá-lo a fazer terapia, abandonar vícios ou mudar comportamentos. E, muitas vezes, aceitar tudo "em nome do amor" pode acabar dificultando ainda mais esse processo.


Fortalecendo sua autoeficácia


Desenvolver a autoconfiança é essencial, especialmente para quem vive preso em ciclos de compulsão, impulsividade, culpa e autossabotagem. É preciso ter em mente que não irá conseguir superação sozinho. Embora seja difícil ouvir que precisa de tratamento, ele é fundamental.


É preciso se desafiar. Ir mesmo com medo. O processo trará perspectivas que você não enxerga porque está vendo apenas do seu ângulo e não conhece ainda recursos capazes de te ajudar.


É preciso experimentar. Não coloque obstáculos e não dê atenção aos pensamentos de que não terá jeito ou de que trata-se de um controle dos outros sobre você. Há muita gente que gostaria de aproveitar os momentos felizes ao seu lado, mas não consegue ficar porque o preço é alto demais.


Então, se permita o cuidado e queira se entender melhor para saber o que fazer com os impulsos que lhe visitam.


Há um processo de crescimento e superação, mas você precisa aceitá-lo.

Saúde mental não se resume a sentir-se bem. Envolve esforço, constância e muita coragem.


Terapia: um treino seguro para a vida real


A terapia é altamente recomendada para quem tem Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) porque ajuda a lidar com os sintomas, compreender os próprios sentimentos e melhorar a qualidade de vida.

É um espaço seguro para treinar novas formas de lidar com as dificuldades. Mas ela só funciona com compromisso e dedicação. É uma prática que envolve disciplina: sessões regulares, reflexões fora do consultório e a disposição para aplicar o que foi aprendido.


Entre os principais benefícios da psicoterapia estão a redução das oscilações de humor, o alívio da depressão e da ansiedade, a diminuição do risco de pensamentos e comportamentos de autodestruição, além da identificação de padrões de pensamento negativos.


A terapia também auxilia no desenvolvimento de habilidades de comunicação, melhora os relacionamentos interpessoais, contribui para evitar conflitos e ensina maneiras mais saudáveis de lidar com o mal-estar emocional. Com o acompanhamento adequado, é possível construir uma rotina mais estável, com mais segurança emocional e relações mais equilibradas.


Finalmente, se você se reconheceu ou lembrou de alguém com quem convive, busque ajuda. Se motive a cuidar de você. Motive essa pessoa a se cuidar.


Principalmente, não desista de você!


Sobre o autor

Jonatas Oliveira é um psicólogo comprometido com o bem-estar emocional e o crescimento pessoal de seus pacientes.

Com uma abordagem humanizada baseada na Gestalt-terapia, ele auxilia indivíduos, casais e famílias a superarem desafios emocionais e fortalecerem suas relações.

Além disso, atua na orientação de processos de desenvolvimento profissional e na perícia psicológica no contexto familiar.




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