- Amanda Claudino
- 6 de set.
- 3 min de leitura
A busca por autonomia na maternidade solitária é um caminho para a liberdade?
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Em tempos de redes sociais, é perceptível a existência de perfis focados em dicas para facilitar a maternidade, apresentando estratégias para as mães lidarem sozinhas com problemas da vida familiar.
À primeira vista, parece interessante. Conseguir fazer as coisas sozinha traz um senso de autonomia, de independência e a liberdade de escolher como e quando fazer o que precisa ser feito.
Por outro lado, faz com que as mulheres aumentem ainda mais a carga de responsabilidades que possuem ao longo de suas vidas. Com o desejo de resolver um problema, acabam se colocando em uma situação de isolamento, fazendo tudo, quando poderiam ou deveriam dividir a carga de responsabilidades.
A comunidade no cuidado com crianças:

O cuidado com crianças deve ser responsabilidade de toda a família e, de acordo com os preceitos de saúde seguidos pelo SUS, esse cuidado é responsabilidade de toda a comunidade.
Não é que você vai colocar seus vizinhos para vigiar o sono de seus filhos ou definir as regras da sua casa, mas o senso de responsabilidade comunitária pode fazer com que sua vizinha que leva o filho para a mesma escola reveze com você quem leva e quem busca as crianças, ou ainda que aquele vizinho que passa a tarde conversando na calçada lhe avise quando seu filho estiver fazendo “coisa errada” na rua.
Ah, Amanda, mas eu não quero dar o direito de outras pessoas opinarem na minha vida! Entendo, mas às vezes tais opiniões trazem uma sabedoria que ainda não adquirimos. Então ouvir e filtrar se aceitamos ou não é o mínimo a se fazer.
Ter essa compreensão de que o cuidado é algo mais amplo e que deve ser dividido, vai te ajudar a pedir ajuda quando precisar. Mesmo que seja ao pai que também já tem uma grande carga de outras responsabilidades, ou para sua irmã que tira 5 plantões semanais no trabalho. Caso a pessoa possa ajudar, ela vai aceitar. Caso não possa, ela nega. Mas quem precisa indicar o que consegue ou não é a rede de apoio (toda e qualquer pessoa que te dê algum suporte).
Por que não pedimos ajuda?

Supor que o outro está cansado e sobrecarregado é um dos fatores que mais percebo com recorrência no consultório para que as pessoas não peçam ajuda. E as mulheres sofrem uma grande pressão social para performar o papel de mãe heroína. Acontece que este discurso de força esconde uma lógica de funcionamento social que nos isola e nos faz repetir padrões de funcionamento sem questionar.
Quantas vezes você ouviu alguém dizer: “Ah, mas Fulana trabalha, cuida da casa e educou muito bem os filhos”. Ou então: “Minha mãe foi mãe e pai e estou muito bem hoje”. Esse tipo de discurso nos faz pensar que se a gente não consegue, a culpa é nossa.
Então não paramos para pensar o porquê dessas mulheres precisarem ter sofrido tanto. Poderia ter sido mais fácil. Poderia ter sido mais tranquilo. Tem como criar bem os filhos num ambiente tranquilo e acolhedor, sem grandes aperreios e sem mãe a ponto de surtar.
Para pensar…
Quero compartilhar com vocês alguns pontos de reflexão que eu sempre levanto em consultório às mães cansadas que se culpam por não serem as heroínas idolatradas do passado:
O que você ganha fazendo tudo sozinha?
Pense em algo que seja ganho pessoal e para seu filho.
O que você está ensinando ao seu filho se sacrificando desta forma?
Quem está se beneficiando do seu sacrifício?
Já que você resolve tudo, alguém está conseguindo descansar e fazer outras coisas da vida com o tempo livre que você proporcionou.
O que você está deixando de fazer por si, para carregar tudo isso sozinha?
Essa pergunta geralmente vem acompanhada da caixinha de lenço, pois geralmente a supermãe não está nada bem consigo mesma.
E por último: faça as contas e veja se o sacrifício vale. Estar constantemente cansada para que outros descansem, está te fazendo alcançar algum objetivo a curto ou a longo prazo?

Na psicoterapia, a maternidade é acolhida em sua complexidade.
O trabalho do terapeuta se inicia com essas reflexões, mas precisa se aprofundar para planejamento de ações e estratégias que se encaixariam na realidade de cada uma dessas mães, ajudando a reduzir a sobrecarga da maternidade e promover bem-estar para ela e seus filhos.
Sabemos que o bem-estar de mães e cuidadores de crianças depende muito do bem-estar da criança, mas ambos precisam ser priorizados, pois um cuidador cansado não promove um bom cuidado.













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