Autocompreensão como antídoto para a Autocondenação
- Amanda Claudino
- 11 de mai.
- 3 min de leitura

Sobre o que é este post:
O que fazer com a culpa que carrego com tanto carinho?
Estes dias refletindo sobre processos de culpa de algumas pessoas próximas, percebi um padrão muito forte entre a necessidade de mudança que as pessoas percebem e a capacidade real delas em promover mudanças reais em suas vidas.
Vou compartilhar aqui minha reflexão por partes.
Parte I: Culpa
Culpa é um sentimento que faz a gente se sentir mal por ter causado algum dano a terceiros, por descumprir acordos feitos, ou ainda ter agido em desacordo com regras e valores sociais. A parte inicial é o sentimento amargo que a culpa traz, em seguida, vem a percepção de responsabilidade com o dano causado: se eu causei isso, eu preciso tentar consertar ou minimizar o impacto das minhas ações.
No mundo dos sonhos do seu terapeuta, você tomaria consciência do que pode ser feito para minimizar os danos, aprenderia com seu erro e seguiria sua vida. Mas na vida real, muitas pessoas ficam presas no mal-estar e não se mobilizam para resolver o que está dentro de suas possibilidades. Outras, tentam resolver da forma “ideal”.
Parte II: Idealização
O que consideramos ideal para reparar um erro, nem sempre está ao nosso alcance. Um exemplo simplório: quebrei um copo na casa de um amigo, então eu deveria dar outro exatamente igual para me redimir. Porém, quando começo a procurar pelo tal copo, vejo que ele saiu de linha. Aquele exato modelo não vende mais.
E agora? Culpa amarga eterna por não achar o bendito copo?
Este é o ponto em que me peguei refletindo esta semana: muitas pessoas ficam presas neste padrão de pensamento, tanto para suas culpas pessoais, como em mágoas que guardam de terceiros que “quebraram algo importante e não conseguiram repor”.
Eu sei que o ideal seria tentar deixar tudo como era antes. Mas antes, não havia a ação que causou o dano, e por mais que você consiga deixar as coisas bem parecidas, elas não serão iguais. O dano existiu e precisamos pensar sobre qual a melhor forma de agir a partir de então.
Eis alguns exemplos que percebo em amigos e consulentes:
Fingir que nada aconteceu ou que a culpa não é sua. Tem gente que mente tanto para si que um dia acaba acreditando que realmente não fez nada de errado.
Esquecer ou apagar o dano. O que não será possível, por mais que seja o que muita gente se esforce para que aconteça e gaste muita energia e tempo de vida com isso.
Amenizar os danos dentro de suas possibilidades, mas sofrer por não alcançar o que seria o ideal: não ter nem errado.
Amenizar os danos e tentar aprender com seu erro, tornando-se consciente de como o erro aconteceu e tentando não errar da mesma forma novamente.
Esta última opção me parece bem cristã, inclusive. Lembrou muito minhas aulas na catequese. O fato é que para lidar com a culpa, é preciso ter foco nos processos de responsabilização. Ter consciência do que de fato está ao seu alcance. Aceitar a sua realidade de vida e evitar, o tanto quanto possível errar da mesma forma.
Sim, é possível que a gente saiba como e porque errou, mas que continue errando por não ter condições materiais ou emocionais para lidar com a questão.
No exemplo do copo, a pessoa que quebrou o copo poderia ser uma pessoa com TDAH, que tem dificuldade de manter atenção e causa alguns pequenos acidentes com frequência. Ou uma pessoa com outras questões fisiológicas que não consegue controlar, como perda de força física, problemas de visão, etc.
Ainda assim, é possível pensar em formas de amenizar os danos e pensar em estratégias para tentar não cometer o mesmo erro, aceitando que vez ou outra vai errar por não estar no controle de fatores que causam os danos. Neste sentido, o trabalho de um psicoterapeuta se faz de grande ajuda, pois nós atuamos nos processos de conscientização de funcionamentos individuais, mas também ajudamos as pessoas a perceberem como sua fisiologia, o ambiente, momento histórico, economia e outros fatores que não temos controle estão afetando a situação em questão.
Por fim, vamos nos lembrar de Sartre que nos alerta para a necessidade de estarmos conscientes de que não temos controle de como o mundo se organiza e como as outras pessoas agem, apenas da forma como vamos reagir ao mundo e às pessoas. Então, é importante ter consciência do que você pode e do que não fazer. O que de fato está ao teu alcance.
Faz sentido para você?
Sobre o autor
🌹❤️
reflexão muito importante, amanda!
Amei seu texto, e como é importante diferenciar culpa de autorresponsabilização!