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Durão ou Sensível?

  • Foto do escritor: Jonatas Oliveira
    Jonatas Oliveira
  • 11 de ago.
  • 4 min de leitura

Os homens estão demonstrando mais as suas vulnerabilidades e se preocupando menos em manter a pose de “H MAIÚSCULO”?


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Desde sempre, a ideia de como um "homem de verdade" deveria ser foi moldada por tudo ao nosso redor: a sociedade, o dinheiro, a cultura e até as histórias que contamos. Cada época e lugar dizia o que os homens podiam fazer, o que podiam expressar e, principalmente, o que podiam sentir. 


Mas o que vemos hoje é a figura do homem meio inseguro, mais sensível e ansioso, que virou piada, moda e até objeto de desejo. E isso não é por acaso. É só um capítulo novo (e um pouco estranho?) na longa história de como os homens são.


De onde vem a masculinidade de ferro?



Antigamente, lá na Grécia e em Roma, ser homem era ter cabeça fria, ir pra guerra, ser corajoso e se controlar. O homem ideal era o guerreiro ou o cidadão exemplar: na dele, firme, dono de si. Sentimentos como medo, tristeza ou ansiedade eram fraquezas e, portanto, algo para esconder ou superar.


Essa ideia seguiu pela Idade Média e se firmou na era moderna com a figura do pai que sustenta a casa, do homem público, que era definido pelo trabalho duro, pela razão e por dominar o mundo lá fora. Ser "macho" era mostrar força, disciplina e não deixar as emoções mais frágeis aparecerem.


Tentativas de mudanças aconteceram…



Com as guerras mundiais e a indústria crescendo rápido, o homem como soldado e trabalhador ganhou mais camadas. Não mostrar emoções virou uma qualidade: homens que voltavam da guerra com problemas sérios muitas vezes eram silenciados pela cultura da força. O termo "transtorno de estresse pós-traumático" (TEPT) só foi reconhecido em 1980, mostrando como o sofrimento masculino sempre foi ignorado.


Nos anos 60 e 70, com os movimentos feministas, civis e LGBT+, surgiram novas formas de questionar o que era ser homem. Alguns autores e movimentos até tentaram resgatar o lado emocional e espiritual do masculino, mas ainda presos a ideias antigas. 


E fica ainda mais interessante!



Nas últimas décadas, com as discussões sobre gênero, mais direitos e a internet bombando, a masculinidade virou alvo de críticas, de reformas e de muita briga de ideias. O modelo antigo de homem começou a ser questionado por visões mais flexíveis, diversas e abertas às emoções.


Mas essa mudança não é fácil. O homem de hoje é, ao mesmo tempo, herdeiro de um jeito de ser autoritário e cobrado para ser empático, cuidador e acessível emocionalmente, sem ter sido preparado para isso.


Estudos de psicologia atuais mostram que vivemos uma fase de masculinidades confusas: vários tipos de homens existem ao mesmo tempo, brigam entre si e muitas vezes se misturam na mesma pessoa. A ansiedade, nesse cenário, aparece como um sintoma e uma imagem: o homem está ansioso porque não sabe mais como "ser homem" num mundo que pede pra ele se reinventar sem dar um manual claro.


A Ansiedade Masculina



A fama de gente como o Pedro Pascal, que virou símbolo da tal "ansiedade", mostra uma nova parte dessa conversa. A vulnerabilidade passou a ser vista como “sexy”. A ansiedade deixou de ser sinal de problema pra virar, por incrível que pareça, um ícone de humanidade e carisma.


Homens ansiosos, gentis, que gaguejam e cuidam de plantas, bichos ou filhos estão ocupando o lugar que antes era do herói que não sente nada. É uma nova "cara" da masculinidade que, embora liberte em alguns pontos, ainda pode esconder armadilhas.


A Armadura do Guerreiro



A história do livro "O Cavaleiro Preso na Armadura" dá uma ideia muito boa pra pensar a masculinidade em mudança. No livro, o cavaleiro veste uma armadura brilhante para se proteger do mundo, mas, com o tempo, ela gruda no corpo dele, impedindo-o de sentir, de se conectar e até de amar.


Essa armadura representa as "regras" da cultura que mandam o homem calar seus sentimentos e negar que é frágil.


A jornada do cavaleiro para tirar a armadura é, na verdade, uma viagem para dentro, onde ele precisa reencontrar sua capacidade de sentir, de dar nome às suas dores e de fazer as pazes com a própria vulnerabilidade, sem deixar de ser corajoso por isso.


O livro mostra que a verdadeira bravura não é lutar contra dragões, mas olhar pra dentro, enfrentar o medo de ser rejeitado e reconstruir a si mesmo com sinceridade emocional. É um convite à mudança pessoal que bate forte com o que o homem de hoje precisa.


Vulnerabilidade não é moda!



Se antes os homens eram criticados por mostrarem fraqueza, hoje eles podem ser elogiados por "performar" essa fragilidade, mas nem sempre de um jeito verdadeiro ou com responsabilidade emocional.


Psicólogos alertam para o fenômeno da "masculinidade performática sensível" que acontece quando o homem só expressa sentimentos de um jeito bonito ou que convém, sem de fato aprender a se relacionar de verdade.


Ao mesmo tempo, muitos homens ainda sofrem sozinhos, com medo de serem julgados, ou se sentem perdidos, sem um grupo ao qual pertencer. A ansiedade, a depressão e o suicídio continuam sendo sinais de sofrimento masculino, principalmente entre jovens adultos, segundo a OMS.


O que podemos fazer?



O homem de hoje precisa se reinventar sem se perder. Isso exige espaços pra ele ser ouvido, políticas de apoio, educação sobre emoções e um esforço de todos pra acabar com os preconceitos que ainda prendem os sentimentos masculinos.


O objetivo não é trocar o "macho alfa" pelo "homem fofo", mas criar uma masculinidade justa, que saiba se relacionar e seja completa. Onde força e vulnerabilidade, firmeza e carinho, possam existir juntos sem vergonha.


A imagem do homem ansioso pode ser, sim, um sinal de abertura. Mas é preciso ir além do meme e tocar no que ele realmente representa: um desejo profundo de se permitir sentir, amar e existir de forma plena.



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