- Jonatas Oliveira
- 2 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 9 de set.
Você já sentiu que o maior vilão estava do lado de dentro?
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A gente costuma descrever a depressão como uma tristeza sem fim, um cansaço que consome a alma ou um silêncio que engole a gente. Mas tem uma coisa que muita gente não percebe: o medo. Um medo que não vem de fora, mas de dentro da gente. O medo de si.

“Tenho medo do que posso fazer comigo”
Essa frase mostra uma dor profunda, onde a pessoa não se sente mais segura dentro da própria mente. O corpo não serve mais de abrigo, os pensamentos viram uma ameaça e a cabeça fica cheia de "fantasmas".
Mesmo que os livros falem que a depressão é mais sobre tristeza, desânimo, problemas para dormir, cansaço e culpa, na prática a gente vê que o medo é um companheiro constante e muitas vezes ninguém fala sobre ele.
Medo de si. Medo dos outros. Medo do amanhã. Medo de sentir tudo de novo. Medo que o pouco bem-estar de hoje não dure. Medo do que está por vir, mesmo que não tenha nada concreto apontando para isso.
A pessoa com depressão pode não estar só triste, ela pode estar em pânico e continuar em silêncio. Pode ficar irritada em vez de apática, com raiva em vez de chorar.
Muitos casos de depressão aparecem como impaciência, tensão nos músculos, sensação de que algo ruim vai acontecer a qualquer hora e desconfiança de tudo. E esse medo guardado e nutrido, muitas vezes, passa batido, é confundido com “mau humor” ou “gênio difícil”.
Na depressão há medo.
O medo de perder o controle. O medo de agir por impulso contra si. O medo de machucar quem está por perto. O medo de não conseguir manter a imagem de que está tudo bem. E, no meio de tudo isso, está a sensação de que algo dentro de si ficou incontrolável, como se tivesse uma força interna que a qualquer momento pudesse “tomar o volante”.
Esse tipo de sensação precisa de alguém pra escutar com atenção. Não é drama nem exagero, mas uma experiência real, que pode indicar que a situação é bem séria.
A pessoa com depressão pode sorrir e, mesmo assim, estar desabando por dentro. Pode estar produzindo muito e, ao mesmo tempo, sendo consumida por um medo constante de falhar, de decepcionar, de não aguentar mais um dia. Ela pode dizer que está “bem”, e minutos depois mergulhar num monte de pensamentos sombrios dos quais não consegue sair.
Essa gangorra, entre momentos que parecem normais e momentos de pavor por dentro, é exaustiva. E muitas vezes faz a pessoa se sentir ainda mais sozinha. Afinal, como explicar um medo que nem sempre tem uma razão lógica?
Uma parte fundamental do tratamento da depressão é poder dar nome a esse medo. Poder dizer, com segurança e acolhimento: “Eu sinto isso”, sem o risco de ser desconsiderado ou chamado de fraco, ingrato ou exagerado.
A terapia tem esse papel: abrir espaço para que o medo não precise virar impulsividade ou algo que adoece. Quando é escutado, o medo pode deixar de ser um monstro e virar um sinal e um pedido legítimo de cuidado, de atenção e de mudança.
A gente precisa parar com a ideia de que depressão é só tristeza.
Falar sobre isso é um ato de coragem. E poder reconhecer esse medo é o primeiro passo para resgatar algo fundamental: a confiança de que é possível se sentir em casa de novo, sem guerra, sem ameaça.



